terça-feira, 30 de junho de 2009

coalesce – ox


Lodo. Não estão menos de 35 graus, e o ar parece tornar-se rarefeito, a ponto da respiração exigir algum esforço. De forma completamente aleatória, socos e biqueiros vêm a mim de onde e quando menos espero. Dores lancinantes e o sangue a prender-se na garganta. Este álbum é um sufoco que me deixa abismado.

Os Coalesce já levam uns bons 15 anos disto, embora grande parte deles não tenham sido propriamente produtivos. Por entre separações, regressos e mudanças de line-up, este “Ox” é apenas o quarto longa-duração da carreira e o primeiro em 10 anos, sendo que 3 deles foram de total inactividade.
Pioneiros no toca a juntar hardcore com metal, mas de uma maneira única, arrisco dizer, este novo álbum traz-nos uma raiva labiríntica misturado com um Sludge tão cru e seco que dói. O primeiro tema, “The Plot Against My Love”, é um bom exemplo do que vos falo e um início perfeito. As músicas seguem tudo menos uma estrutura linear. Constantes mudanças de ritmo, como se toda a banda padecesse de algum distúrbio nervoso, fazem de mim gato-sapato. A distorção não é meiga com ninguém, a roçar às vezes o Noisecore, é bem capaz de desfazer cérebros em papa. O baixo, meus amigos, o baixo! Quase tão perceptível quanto a guitarra, escava uma vala só para si. Há que esperar o inesperado nestes 35 minutos, a ponto de termos dois temas instrumentais e acústicos, cirurgicamente arrumados no corrupio de fúria. Também influências Country e Blues, bem visíveis no início da “Wild Ox Moan”, estão um pouco por todo o lado. Quase todos os temas têm algo de relevante a acrescentar, e apenas isso, diz bem do monstro que este álbum é.

“Ox” consegue ser um bafo de ar quente e sujo, e ao mesmo tempo, uma lufada de ar fresco no espectro da música pesada. O que não deixa de ser uma continuação lógica do que faziam há 10 anos atrás, é ainda, nos dias de correm, atípico e original. Se esta review não foi suficiente para vos fazer ouvir isto, talvez o 10/10 da Decibel o faça. Regresso do ano.

terça-feira, 23 de junho de 2009

22 de junho, musicbox lisboa - RS + FTG + NTB + DT


Foram dias e dias de preparação para o mood ideal para este concerto. Flyers, promo vídeos, muita passagem de palavra, muita euforia em torno das bandas que iriam tocar. Tudo bem feito. À porta da Musicbox cheirava a ansiedade e expectativa. À entrada para a sala iam sendo “barradas” rivalidades, picardias, e más disposições. O dress code para esta noite implicava, amizade, união, alegria, e muita, muita energia a correr nas veias. Dois dos maiores pesos pesados do Hardcore nacional, os habitués holandeses, e uma Ameaça de Morte vinda directamente dos States. Não dava para pedir mais que isto, e como tal, tivemos casa cheia na sala do Cais do Sodré.

Ainda com pessoal à porta para entrar, coube aos Reality Slap abrir as portas para o Inferno dentro da Musicbox. A demência do público nos concertos destes senhores já não é novidade, e ontem, tivemos mais uma prova do valor desta banda ao vivo. Hardcore puro e duro que demorou menos de uma faixa para meter tudo em alvoroço. O caos estava instalado quando de repente se deixa de poder ouvir a voz do vocalista devido a problemas técnicos. A situação parecia irremediável. Terminar o concerto? No way! Hell with it! Não canta o vocalista ao microfone, canta todo o público em uníssono! E foi o que aconteceu. Numa perfeita comunhão entre todos os presentes, não se deixou a festa parar, e cantou-se uma nova música do princípio ao fim. Para grande satisfação da banda e dos presentes, viram-se resolvidos os problemas técnicos, de modo a que continuaram a ser distribuídas chapadas de realidade durante mais duas ou três faixas, onde houve ainda tempo para arrepiar os pelos do braço com uma cover de Madball. Tomara as aberturas de noite serem sempre como esta.

O aquecimento tinha sido mais que bom. Chegara a vez da banda do maior responsável pela organização desta noite, entrar em palco. Começa a ficar complicado adjectivar os concertos em que os For the Glory participam. A tocarem para o seu público, diria que se batem de igual para igual com os maiores nomes internacionais que por cá passam. Se ainda hoje se fala da mítica noite no Clube Lua, certezas não me faltam de que daqui a anos se falará também da mítica noite no Musicbox. Entre "Drown in Blood" e "Survival of the Fittest" todos cantaram as faixas do princípio ao fim. A confusão, essa, já se sabe que foi mais que muita. Reflectida nos rostos da banda, estava a satisfação com que ali estavam a tocar, aliás, penso que será impossível uma banda não se sentir motivada a tocar para um público como o de ontem. Enfim, mais uma performance gigante, que se resume numa frase que ecoou entre as 4 paredes daquela sala – “HARDCORE É LINDO! E ISTO, É HARDCORE!”.

Já acostumados aos palcos portugueses, os No Turning Back foram a primeira banda estrangeira a prestar provas. Bom, se o que se tinha passado antes tinha sido de grande nível, o que dizer deste concerto? Para mim, o melhor concerto da noite. Ainda que a banda não fizesse sentir aquela pica de estar a ver algo novo, o público fez questão de mostrar o melhor da hospitalidade portuguesa. Pareceu-me um set bem escolhido e do agrado da maioria dos presentes, pese embora continue a achar que o "Revenge is a Right" podia ter sido mais bem explorado. A habitual frase “este é o melhor concerto que demos nesta tour” pareceu-me incrivelmente verdadeira e sentida, dado o momento que se estava a viver. Martijn, um verdadeiro monstro em palco, fez questão de expressar a sua admiração por estar a assistir a uma noite assim a uma 2ª feira, o que naturalmente levou a um aplauso enorme por parte dos presentes. Foi um puro show de Hardcore. Como já vinha sendo habitual em ambos os concertos anteriores, tivemos dezenas de stage dives, headwalks, slam dance, ninjas mascarados a espalhar o caos duma ponta à outra da sala, crowd surf, singalongs, enfim, tudo aquilo que um concerto de Hardcore deve ter. Terminar dizendo que qualquer coisa de mal que se possa falar sobre este concerto, rapidamente é apanhada por uma gigante ” Web of Lies”.

Havia chegado a vez dos cabeças de cartaz. Era a primeira vez que os Death Threat iam tocar em Portugal, e assim sendo, todos entre público queriam dar uma boa imagem de como se vive o Hardcore por estas terras. A banda abriu a matar com um par de faixas capaz de entusiasmar os que seguem a banda à mais tempo. Há no entanto que dizer, que não foi a última banda a proporcionar o melhor concerto da noite. Talvez devido à loucura dos 3 concertos anteriores, quis-me parecer que os Death Threat actuaram de uma forma um pouco inibida. A garra do concerto anterior certamente fez puxar as minhas expectativas para cima, e talvez por isso, não tenha ficado extasiado com este último concerto. Mas atenção, foi um show longe de poder desiludir alguém! O set apresentado, apesar de curto, despoletou “moshada” com fartura. De uma ponta à outra da sala, viam-se braços no ar acompanhando os constantes singalongs. Digamos que não foi um concerto de superar expectativas, mas que, ainda assim, se encaixou na perfeição dentro ambiente criado durante toda a noite.

Ainda que esta review já vá longa, não poderia terminar sem exprimir a minha gratidão pelo maior responsável pela organização deste concerto. Pouco ou nada tem a provar a quem quer que seja, e ontem, mais uma vez, o Ricardo (Congas) deu uma demonstração do que a o amor à camisola, a vontade e o querer são capazes de fazer. Resultado do esforço de muitos que constantemente trabalham para enriquecer o Hardcore em Portugal, tivemos ontem uma verdadeira lição daquilo que o Hardcore é e significa. Espírito DIY elevado ao mais alto nível. Fica a lição para grandes promotoras poderem estudar mais tarde. Sem dúvida das melhores noites de Hardcore dos últimos anos em Portugal.

domingo, 21 de junho de 2009

true colors - rush of hope


Não é com muita frequência que me deixo seduzir por álbuns de bandas na onda do Youth Crew, mas o que é facto, é que estes senhores conseguiram, mais uma vez, fazer um excelente trabalho, colando-me, durante dias e dias, a este seu novo álbum.

Banda de origem belga, os True Colors viram a sua história começar à não muito tempo atrás. Entre 2004 e 2005, um ex-guitarrista de Justice (logo aqui a vossa atenção deve redobrar) decidiu juntar uma rapaziada amiga e criar uma nova banda Straight Edge. As coisas começaram a correr de feição para a banda, e hoje, com o seu novo “Rush of Hope”, a banda conta já com dois full-length álbuns e uns quantos outros lançamentos de menor dimensão.

Não competia à banda trazer algo de revolucionário, mas sim algo com qualidade, e sobretudo que transparecesse o sentimento com que toca. O álbum arranca com a intro da praxe, e rapidamente se desenvolve para uma peça musicalmente consistente e até capaz de surpreender. Bem ao estilo do Youth Crew, as faixas são rápidas e enérgicas, se bem que a certo ponto do álbum me vi embrulhado em ritmos mais lentos, que metem de parte a necessidade de uma intervenção rápida, e se deixam pautar única e exclusivamente pela transmissão clara da riqueza das letras. Aqui, encontramos um pequeno ponto de viragem na maneira como a banda desenha a sua música. Como manda a lei, continuamos a poder ouvir as habituais palavras de inconformismo perante a sociedade e tudo aquilo que nos rodeia, mas agora, para além disso, temos também faixas ligeiramente mais longas e lentas, cantadas num tom bem mais pessoal e emotivo, o que, na minha opinião, veio enriquecer a música destes True Colors, salpicando este seu novo álbum com uma maior diversidade sonora.

São cerca de 20 minutos de música, onde ideais de uma filosofia de vida se fundem com o Hardcore, originando um lançamento aconselhável para todos aqueles que seguem de perto o Youth Crew. Se é de Cores Verdadeiras que aqui falamos, então, desde já invoco o Verde que consigo carrega a esperança de um dia poder ver esta banda ao vivo por terras lusas.


Download

domingo, 14 de junho de 2009

suffocation - blood oath


Apanhando o comboio do último post, vamos a uma das bandas que ajudaram a construir primordiais afinidades entre o Death Metal extremo e o Grindcore. Verdade seja dita, estes gajos são grandes. Não lhes reconheço um álbum mau em 20 anos de carreira, e quem os viu no ano passado em Corroios (uma das coisas mais brutais e míticas que vi naquele palco) reconhece de caras a paixão que ainda lhes sobra pela cena.

No “Blood Oath” não há surpresas. Corrijo-me. Há uma. A que já não deveria ser, mas que lá sobressai quando pensamos no assunto. Duas décadas a serem fiéis a si próprios e ainda são capazes de inventar mortíferos petardos como este. Não sei bem explicar, mas isto soa-me muito old school, mas também a novo perfume. Ou seja, este é um álbum que não destoaria no início de carreira da banda, e que, ao mesmo tempo, tem um je ne sais quoi que o torna fresco e não apenas mais um déjà vu.
Não há que ter receio em dizê-lo. Os “velhos” ainda conseguem ombrear com o que de melhor se faz no género nos dias que correm. Os riffs têm a mórbida marca Suffocation impregnada, bem como os insanos solos que muita das vezes não passam de masturbação sonora da guitarra, mas que vai de encontro ao caos sangrento que aqui se vive. Sempre admirei o facto de acrescentarem outros estilos de som ao seu Death Metal bruto e técnico, aliás foram pioneiros no que a isso diz respeito. Esperem por isso aqueles ritmos Doom em que o Frank Mullen rasteja por terrenos lamacentos, e breaks fulminantes capazes de fazer corar muita banda de Hardcore. Blast beats e viscerais pedaleiras conseguem extrair de mim o que de mais animalesco existe. Objectivo atingido. Esta é uma sova daquelas.

Se entrarmos em comparação com o anterior registo, se calhar falta aqui um “Entrails of You”, ou seja, um tema que seja anormalmente orelhudo e que se cole logo à cabeça. No entanto acho este “Blood Oath”, mais consistente, homogéneo, e até melhor produzido. Um álbum digno da banda que é e daquilo que representa.

Download

quarta-feira, 10 de junho de 2009

swwaats - the grand partition and the abrogation of idolatry


Success Will Write Apocalypse Across The Sky. O nome é estupidamente longo e desprovido de grande sentido para uma banda, mas tenham-no em atenção. Esta bujarda de Grind/Death caiu que nem uma bomba aqui por estes lados, eu que até nem sou muito dado ao bruto estilo.

Ora bem, o que mais me afugenta deste tipo de som e seus subgéneros é o seu magnetismo pela repetição, de tal modo que a certa altura, banda X e Y acabam por me soar exactamente ao mesmo. Felizmente, surgem, aqui e ali, excepções que tentam trazer alguma imprevisibilidade, ou que pura e simplesmente são tão bons naquilo que fazem que não precisam de tirar coelhos da cartola para se destacarem. Os SWWAATS tentam aqui entrar nas tais excepções e a meu ver conseguem-no.
Por ser o primeiro álbum do grupo, este ainda impressiona mais pela sua força e coesão. Dentro do caos, podemos ir contra paredes maciças de Death Metal mais clássico ou mais moderno, bem como ser triturados por martelos pneumáticos de espigão Grindcore. A velocidade é a do dito martelo. Estonteante, com 300 mil riffs a caber num tema, executados a mil à hora, mas com uma mestria assinalável. O engraçado é que todos os riffs, que podem ir do Grind ao Thrash, têm o seu espaço e interligam-se de forma bastante harmónica, dando espaço ainda a poucos, mas viscosos e incisivos, breakdowns. A isto juntem-lhes também alguns momentos a fugir para o épico, o que só vem agigantar o produto final.

Apesar de relativamente complexo e até progressivo, todas estas partes são bem coladas, e dá-nos no fim a sensação de uma música com cabeça, tronco e membros, diferente das restantes, capacidade que é desconhecida a muitas bandas nestes moldes. O futuro do género está algures aqui. Estreia auspiciosa. Muito.

Download

domingo, 7 de junho de 2009

6 de junho, let's rock bar - fd + lb + nwf + syc + trc


Se me perguntassem hoje o porquê da paixão que sinto pela cena Hardcore, a minha resposta seria imediata e bastante curta – “Estivessem presentes no Let’s Rock Bar em Almada na noite de ontem”. Bons concertos, convívio entre vários grupos de amigos, ambiente familiar e um público enérgico e motivador para qualquer banda que esteja a tocar. Pegou-se em tudo isto, e com algum jeito, coube tudo dentro da nova sala de Almada, um espaço novo que, pegando nas palavras de Domy (vocalista de Not Without Fighting), “tresanda a Hardcore”.

Foi com alguma pena da minha parte, que não consegui assistir à primeira banda em palco. Banda nova, composta por pessoal cheio de vontade de mostrar o que conseguem fazer, os Facedown foram os responsáveis pela abertura da noite. Não podendo dar o meu parecer sobre a actuação da banda, ao que parece, esta rapaziada foi uma agradável surpresa. A qualidade das primeiras gravações que se podiam ouvir no myspace era de desconfiar, mas o que é facto, é que depois do concerto, a maioria das opiniões convergia para uma única direcção – prestação muito boa, repleta de sentimento, e que, ao contrário do material publicado online, deu uma imagem mais fiel sobre o que os Facedown podem fazer.
Seguiram-se os Lowblow. Malta do Barreiro que chegou aí em força, e que nos minutos em que tomaram o palco, souberam fazer a festa. O som da banda não traz nada de novo, no entanto, pareceu-me ser um concerto cheio de pica, em que o peso de várias faixas serviu como um bom aquecimento para o que vinha a seguir.
O nome daqueles que se seguiram é já um clássico entre as bandas que se formaram na margem sul do Tejo. Presentes estavam aqueles acompanham a banda desde o seu inicio, bem como muitos, que só agora, após regresso da banda, passaram a conhecer o seu som. Este concerto de Not Without Fighting foi mais uma prova da garra com que este pessoal voltou aos palcos. Entre faixas novas e malhas que arrancam sorrisos ao pessoal da velha guarda, foi um concerto completo, que em vários momentos, meteu a cave do “Rock Bar” num autêntico estado de sítio. Sobrou ainda tempo para um aperitivo de som do Reino Unido com uma cover de Knuckledust. Voltaram em força aos palcos, agora pede-se urgência no lançamento de algo novo, num formato que dê para ouvir em casa.
Coube aos Steal Your Crown terminar a sucessão de bons concertos de bandas portuguesas, e abrir o concerto dos ingleses TRC. Fizeram mais do que aquilo que lhes era exigido, dando provavelmente o melhor concerto da noite. O calor que já se fazia sentir na pequena cave subiu ainda mais, fruto da adesão em massa por parte do público. Impossibilitado de andar no frenesim e confusão lá da frente, foi com pena que tive que ficar a um canto a assistir a esta demonstração daquilo que um concerto de Hardcore deve ser. Moshada com fartura, ninjas espalhados por toda a sala, malta a ser transportada pelo ar literalmente a tocar no tecto da cave, pessoal a apoderar-se dos microfones para backvocals, enfim, um ambiente verdadeiro, e com um feeling brutal. Os ingleses, que do seu canto iam assistindo a tudo isto, com certeza chegarão a casa com uma imagem superior daquilo que é a cena Hardcore em Portugal.
Não sendo fã de TRC, e conhecendo pouco mais do que o clip da faixa que abriu o concerto, tenho que confessar o meu espanto quando vi tanto pessoal em constantes singalongs com a banda. Superando largamente as minhas expectativas, foi um concerto excelente, com uma harmonia perfeita entre banda e público. Após abrirem as hostilidades com a já referida “Define Cocky”, o concerto evoluiu para um verdadeiro festival de pancadaria. Um fecho de noite em consonância com tudo o que havia já acontecido.

Não seria justo terminar esta review sem deixar a merecida palavra de apreço aos responsáveis pela organização do concerto. Tudo foi bem feito, a qualidade do som esteve ao melhor nível, o espaço escolhido, pese embora pudesse ter uma ventilação ou um ar condicionado melhores, é realmente propício para estes concertos, o preço foi convidativo, a casa esteve cheia, e tudo correu sem problemas de maior. TSC e Mass Murder de parabéns! Destes, venham mais!