domingo, 28 de março de 2010

the dillinger escape plan – option paralysis


É um dado garantido que um mau disco, ou até mediano, daqui dificilmente sairá. O estatuto que os The Dillinger Escape Plan granjearam álbum após álbum assim o dita.
O início deste quarto é um perfeito prenúncio de que vem aí outra obra-prima. “Farewell, Mona Lisa” é um excelente reflexo do que é a banda hoje, ao variar a impetuosidade descontrolada com momentos de puro êxtase melodioso de proporções, não raras vezes, épicas. O álbum desenrola-se na fúria habitual destes, mas não vulgar, que nos põe pela milésima vez a cabeça a latejar e a desencadear reacções corporais pouco sãs, mas também esbarra-se como nunca antes na voz limpa e melosa do Greg Puciato e em segmentos do tipo “depois da tempestade, vem a bonança”, se bem que a ordem de acontecimentos nem sempre é essa. Apesar da maior variedade e variação intra-temas, o mesmo não se sente quando os comparamos entre eles. Há menos espaço para a experimentação, não há temas instrumentais e completamente desconectados da realidade ou de algum tipo de senso, embora existam nuances neste capítulo, como é o aparecimento do cada vez menos tímido piano em algumas músicas. É por isso um álbum mais homogéneo do que seria de esperar o que não é negativo nem positivo por si só.
A esquizofrenia de sons e de estados de alma com que o grupo me violenta continua, porém, bem como os momentos que me deixam de queixo caído, envoltos numa cápsula desta vez mais negra, estranha e sombria. Cada vez que ouvi o álbum, gostei mais dele, embora não me tenha impactado como os outros. No contexto da carreira dos TDEP acho-o menos inspirado, com menos momentos memoráveis, o que não é suficiente para me deixar com um amargo de boca que seria de todo injusto dada a grandeza musical que aqui se ouve.

terça-feira, 23 de março de 2010

darkthrone - circle the wagons


A cena norueguesa deve estar-lhes grata.
Este disco segue o caminho iniciado pelo “The Cult is Alive”, por isso não esperem mais uma fractura sonora pouco ortodoxa em relação ao que têm feito desde então. Ao longo do álbum apercebemo-nos que o black e o death metal já nem nos (lhes) passa pela cabeça, e que o punk não lhes faz justiça. É Darkthrone, e engavetá-los é pouco legítimo.

I am the graves of the 80’s… destroy the modern metal and bang your fucking head!

O espírito do álbum é no entanto metal até à medula, e de uma maneira muito reminiscente, retro até. Sente-se uma celebração da simplicidade e honestidade do metal dito antigo, numa espécie de homenagem aos de então que não vem de agora. Confirma-se o respirar de ares abafados e putrefactos num absoluto degredo que nos leva a uma ruína humana que entretém e alegra. Depois, continuam a cuspir classe e insolência a cada riff, com uma pose e atitude altivas e rudes, que lhes pertencem por natureza.
Não há aqui nada de novo para a carreira dos Darkthrone. Melhor dito, não há aqui nada que os Darkthrone não tenham já feito. Não está ao nível do “F.O.A.D”, para mim o melhor álbum desta fase do grupo, mas o som continua a ser absurdamente acessível e viciante, e no fundo é isso que os mantém na corrida. Os protestos de sell-out devem-se repetir. Enquanto assim for…

sexta-feira, 19 de março de 2010

mono + löbo - musicbox, lisboa

Entrei à hora combinada, já com os Löbo a dar os primeiros acordes. Já tive a oportunidade de lhes fazer jus quando escrevi sobre o EP (oficial?) deles e quando abriram para Men Eater. Se soubesse, inventaria palavras de jeito para elogiar estes tipos. Sem rodeios, esta é uma das melhores bandas do nosso underground. E ainda nem lançaram um álbum. Concerto onde o negro serve de encosta para riffs pesados, e poucas vezes este adjectivo fez tanto sentido, que nos afligem a consciência de forma lenta, arrastada e doentia, e nos amassam o corpo para feitios pensativos e carrancudos. A passagem para outra dimensão espacial é feita de testa franzida, convicto de que o que estou a ouvir é uma dualidade entre o inocente e o atroz, entre o humano e desumano. No palco é, por isso, tudo hiperbolicamente sentido de princípio a fim, num transe que se funde com o êxtase em momentos cruciais. Foi assim que me deixaram. No fim, ouviu-se o queixume de muita malta sobre os apenas 30 minutos de actuação.



Ouvi maravilhas sobre Mono ao vivo. Gosto anormalmente da banda, se tiver em conta o género de música que toca. Há poucas bandas estritamente de post-rock que me levam a ouvi-las mais que uma vez com atenção. No entanto, os Mono devem ser o grupo do estilo que mais me puxa, se excluirmos Godspeed You! Black Emperor. Há aqui qualquer coisa que me parece especial.
Despache-se o negativo. Tendo em conta que os dois guitarristas passam grande parte do concerto sentados, que a baixista ainda os imita quando vai tocar piano (que eu não cheguei sequer a perceber se estava no palco), e que eu não estava nas duas primeiras filas da plateia, houve alturas que estava a olhar para um palanque vazio. O MusicBox nunca será um espaço apropriado para os japoneses, mas, enfim, havia que por isso de lado.
Foi dada natural primazia ao último álbum, que durante muito tempo fez parte da minha playlist e agora voltou. “Ashes in the Snow” e “Burial at Sea” iniciaram a massagem cerebral de uma hora e meia. Os contornos emocionais e poéticos do som dos Mono, ganham ao vivo uma extensão que os agiganta para patamares memoráveis. Este concerto foi um salto para o meu lado fraco e susceptível. Foi de livre vontade que fiquei desarmado, dormente a ponto de me desequilibrar (literalmente), num estado que se podia confundir com o sonambulismo. Via no palco (quando dava) músicos genuinamente egoístas. Tocavam para si, como se fosse a primeira vez, entregavam-se ao que ouviam e sentiam aquilo que completavam. Pedir mais é abusar da sorte. As explosões após os crescendos batem com um peso e intensidade agradavelmente profundos, mas nem por isso me acordam do meu ser paredes feitas entre o sono e o encanto. Um instante depois e estava a dar as palmas de despedida.
A casa esgotada um mês antes é plenamente justificada. E sim, eles têm algo de especial, que disfarça a evidente repetição da fórmula estrutural de algumas músicas. A seu favor têm a criação de momentos absolutamente sublimes capazes de me arrepiar nos meus dias mais insensíveis. Até breve, Mono.

domingo, 14 de março de 2010

rebellion tour 2010 - essigfabrik, colónia

Cheguei a Colónia por volta das 3 da tarde. Em 10 minutos encontrei o hostel onde ia passar a noite, subi para vestir algo mais confortável, e fui dar uma volta pela cidade para conhecer um pouco das zonas turísticas. Eram perto das 6 da tarde quando peguei no meu rudimentar Google Map e me encaminhei para o local do concerto. Depois de cerca de 40 minutos a andar, dei por mim numa zona industrial do outro lado do rio. Quando comecei a achar que me tinha perdido, vejo um enorme grupo de pessoal reunido à porta de umas das fábricas. Tinha finalmente encontrado a Essigfabrik, sala onde dentro de instantes tomaria inicio mais uma noite da Rebellion Tour. A heterogeneidade reinava por aqueles lados. Grupos de pessoal da velha guarda, putos novos de mochila as costas, muita malta a exibir orgulhosamente o seu X na mão, e por fim uns quantos casos isolados, tal como o meu, que vieram de outro país na esperança de passarem uma boa noite. Também engraçado, foi o facto de estar uma pequena tenda montada à porta da venue, com pessoal a vender uma tal de Vegan Fast Food. Tendo em conta os graus negativos que se faziam sentir, a ideia de uma sandes quente era, no mínimo, apelativa. Numa agradável surpresa, os 3 euros que gastei na sandes, mantiveram-me satisfeito para o resto da noite. Boa onda! Ainda que vincado pelo mainstream do Hardcore, este era um line-up que eu dificilmente poderia perder. Pica a montes para ver pela primeira vez Cruel Hand, a esperança de um concerto de Terror oposto ao que vi em Portugal no último ano, e por fim, as saudades de voltar a ver a banda que provavelmente mais me marcou – Madball – foram motivos mais que suficientes para fazer esta pequena viagem até à Alemanha.

A noite começou com os The Setup, a única banda europeia nesta tour. Da minha parte, posso dizer que desconhecia o som da banda, e pelo que vi, os alemães também não me pareceram ser grandes fãs. O som pareceu-me cansado, não acrescentando muito àquilo que a generalidade do pessoal conhece. O resultado foi um vocalista a pedir insistentemente o apoio do público, sendo apenas correspondido por um super ninja que aproveitou o espaço que ainda havia na frente para dar umas piruetas, uns mortais, e uma quantidade ridícula de acrobacias que ele para lá fez. Para mim, a noite iria começar de seguida.

Cruel Hand. 2-step, 2-step!
É ridícula a quantidade de vezes que já ouvi os albúns destes rapazes. Assim que a guitarra deu o primeiro acorde foi impossível não ir lá para a frente curtir. “House Arrest” abriu as hostes, seguida de imediato pela “Life in Shambles”! A energia que o vocalista tem é um completo disparate, e rapidamente essa energia se começou a transmitir para o público. Ainda que a adesão não tenha sido em massa como se verificou nos concertos que se seguiram, não foi preciso muito para o espaço na frente se transformar numa pista de dança para o pessoal que, tal como eu, sente o som desta banda. Sides-to-side, slam dance, e muito, muito 2-step. Com muita pena minha, a banda não tocou mais de 35 minutos, o que ainda assim, foi suficiente para cobrir uma boa quantidade de temas dos dois álbuns. Como disse e volto a repetir, este é um concerto que fica marcado sobretudo pela energia e intensidade com que o vocalista vive o momento. Brutal! Melhor só com uma sala mais pequena e um ambiente mais familiar. Espero poder vê-los de novo.


Death Before Dishonor. Sing-along!
Impressionante a quantidade de fãs que esta banda de Boston arrasta. Do inicio até ao fim, houve sempre pessoal colado ao palco a cantar todas as letras da banda. À semelhança do que aconteceu na última vez que os vi no Tuatara em Alvalade, o concerto abriu com a Intro e respectiva continuação – “Count me in”. O moshpit agitou e de que maneira. Dançava-se menos, os circle-pits eram constantes, e a banda sem dúvida deixou tudo o que tinha em palco. Sem dúvida o melhor concerto que vi da banda. Notou-se ainda a diferença no público sempre que se tocaram músicas do álbum mais recente, que de certa forma, até surgiu como uma boa surpresa no percurso que a banda tem feito. As vozes de toda a sala uniram-se para cantar o original de Cock Sparrer, agora adaptado para Boston. “Boston Belongs to Me” é sempre uma festa, e dá gosto ver como o pessoal curte este som, saltando e cantando sempre com um sorriso de puto na cara. Óptimo concerto, que facilmente superou as minhas expectativas.


Terror. Duro, muito duro!
A sala escurece, e ao estilo do inicio do MCD de Steal Your Crown, começa um beat pesadão que sufocou todo e qualquer um que estivesse dentro daquela sala. O beat esmurece, o baixista vem na frente de óculos escuros, e atrás dele todo o resto da banda. Bateria e guitarras aceleram! “Lowest of the low”!!! A chapada instala-se na sala, dou 3 passos atrás, e sem saber de onde, sou arrastado para o meio do pit. Se não os consegues vencer, junta-te a eles. Foi provavelmente das entradas mais brutas que alguma vez vi num concerto. Com álbum novo ainda a ser preparado em estúdio, não esperava grandes novidades na setlist da banda. Tal como eu gosto, foram temas atrás de temas dos dois primeiros full-length da banda. Se antes o stage dive não tinha sido uma opção muito usada, aqui voavam pessoas do palco de 5 em 5 segundos. A conversa do costume sobre o concerto estar a ser “um dos melhores da tour até agora”, pareceu-me de tal maneira verdadeira, que não imagino uma performance conjunta de banda e público melhor que esta. Se em Portugal o último concerto foi 8, ali foi 80. Os clássicos do “One With the Undergods” e do “Lowest of the Low” estiveram lá todos, e cada um deles com uma dimensão animalesca. A merecer nota por parte do Scott Vogel, foi a importância de não estarem (ou pelo menos aparentava) gajos de extrema-direita por aquelas bandas. A salva de palmas que se seguiu falava por sí - “No Hardcore não há espaço para essas pessoas!”. Fazendo o devido spoiler alert, este foi o melhor concerto da noite, e provavelmente o melhor concerto de Hardcore em que alguma vez estive presente.


Madball. New York finest Hardcore!
Este foi um concerto que explica o porquê desta banda continuar a ser a predilecta do meu coração. Ainda que o concerto de Terror tenha sido o melhor da noite, este foi sem dúvida o melhor concerto que vi de Madball. Após tantos anos disto, a energia continua lá! “Demonstrating My Style” foi o sinal de partida para se instalar o caos entre o público. Para meu delírio, também aqui a banda resolveu abrir o baú e sacar lá de dentro todos os clássicos possíveis. Respirava-se ar das ruas de Nova Iorque em Colónia. “Set it Off”, “Smell the Bacon”, “Get Out”, “Streets of Hate”, “Across Your Face” meteram o público em completo estado de histeria. E por falar em público, tenho que mencionar novamente o vocalista de Cruel Hand. Tanto em Terror como em Madball, este rapaz parecia que tinha o diabo no corpo! Se houvesse competição de stage dives, com certeza ele seria o vencedor. A última vez que o vi, tinha acabado de dar headwalk de provavelmente uns 5 passos. Para o último tema da banda, o microfone foi partilhado por 3 vocalistas – Freddy e ambos os vocalistas de Cruel Hand e DBD. Escusado será dizer que passados 30 segundos da “Times Are Changing” o público invadiu o palco por completo. Terminou em beleza, quase que me sentia em casa.



Ainda que não tenha tido o prazer de assistir a esta noite com amigos do meu lado, esta foi provavelmente a melhor noite de concertos em que estive presente. Um big up para o público alemão, que se revelou em tudo superior ao público que tenho apanhado na Holanda. De Colónia levei sem dúvida as melhores memórias.