domingo, 25 de outubro de 2009

converge - axe to fall


Vou fazer como este álbum e entrar a pés juntos. O início deste animal é de um flagelamento torturante capaz de partir canelas e tudo o que venha por arrasto. Chega a ser esgotante como isto me mete a cabeça a andar à roda. A “Dark Horse”, para além de ser incansavelmente bruta, tem o riff mais orelhudo que alguma vez fizeram, o que torna a coisa um completo vício. Nunca a opção repeat fez tanto sentido. Sem lugar a silêncios, se alguma vez os Slayer fizessem parelha com os Converge, sairia alguma coisa parecida com a “Reap What You Sow”. Cilindramento sonoro. Logo a seguir, a “Axe To Fall” propõe-se destruir o pouco que resta, num exercício completamente louco, distorcido e claustrofóbico. Cuidado com o pit. Imagino pessoas a trepar paredes ao som disto. O quarto tema é também um massacre, embora com proporções menos épicas, mas suficientes para me por grogue à mesma. 9 minutos de desumanidade saudável para a alma.
A seguir, o virar de página. Parecendo que não, já lá vão 19 anos. A pica de fazer um álbum sempre a abrir e caótico de princípio a fim não pode ser a mesma. Algumas das experiências um tanto ou quanto estranhas do “No Heroes” ganham aqui (melhor) forma, e um papel muito mais preponderante do que se poderia esperar. O som começa a ficar arrastado, o ambiente mais brando e taciturno, o Bannon deixa apenas de berrar, e alguns apontamentos electrónicos aparecem no mapa, de tal forma que apanhei-me a olhar para o leitor só para confirmar de que se tratava de Converge.
Se estes não eram terrenos convergianos, passaram-no a ser. Admirável a forma como os temas nunca me deixam bocejar, e como têm uma força vincadamente própria e desigual. São as duas últimas músicas, a intimista “Cruel Bloom” e a tocante e bela “Wretched World”, com a participação de membros dos Neurosis e Genghis Tron respectivamente, o reflexo máximo de uma banda que sempre procurou interiormente fazer mais e ser mais. As participações especiais neste álbum alongam-se a elementos de Disfear, Cave In e Blacklisted, por exemplo, gente, no mínimo, respeitável.
Para quem não gosta nadinha dos Converge, este disco até se pode tornar audível. Para a maioria de quem gosta deles a sério, assimilar o lado mais abstracto e pensativo da banda vai ser só uma questão de hábito. Álbum gigante de uma banda a caminho da perpetuidade.

sábado, 17 de outubro de 2009

doomriders - darkness come alive


Foi amor à primeira audição quando descobri o estreante “Black Thunder”. Nesse álbum cabia de tudo. O feeling blues, a atitude punk/hardcore, o peso do doom, a fúria do d-beat e lá pelo meio umas melodias a fazer lembrar Maiden. Era incatalogável. Era Doomriders. A expectativa sobre o que viria a seguir era por isso mais que muita. Talvez por isso o primeiro contacto com este “Darkness Come Alive” deixe um amargo de boca. Porque nos cai logo a sensação que o disco, por muito que cresça, não consegue ter arcaboiço para suster o fardo criativo anterior.
Para começar aparecem de cara lavada, com uma produção bem mais limpinha e menos distorcida, o que, quanto a mim, não vai com o espírito cru e descomprometido da banda. Apesar de ainda o fazerem, deambulam menos entre estilos e procuram, agora, arranjar um fio condutor que cole pontas soltas e torne o álbum mais homogéneo. Se calhar é a isto que chamam maturidade. Não é que isto seja necessariamente negativo ou positivo. A importância está na forma.
Ao longo de 17 temas (alguns deles são simples interlúdios), há-os bons, mas é difícil encontrar um ou mais que se destaquem imediatamente. “Come Alive” está formatado para ser single. A meiguice e a aparente inocência do som contrastam com a lírica escura de sentido e acabam por tropeçar para um doom que os tipos não sabem fazer mal. O tema “Crooked Path” é o chamado “som do c…”. A música não é propriamente nova (fez parte do Split com Disfear do ano passado), mas aparece aqui com uma roupagem mais bonita e cuidada que retira mais do que acrescenta, mas não o suficiente para que deixe de ser o tema que mais curta no álbum. Sintomático. “Lions” é uma boa surpresa. Tem uma estrutura pouco comum, com o Nate a apregoar “don’t let these fuckers grind you down / don’t let these bastards kill your soul” e a dar a estas frases meio cliché um sentido revigorado. Se todos os momentos fossem como esta tripla, ou lá perto, estávamos muito bem. Não são. O problema é mais grave quando há temas que teimam em não sair da mediania e que acabam por nos passar completamente ao lado. Por esta não esperava eu.
Sendo curto e grosso, o álbum ouve-se bem, mas é daqueles que não vai passar muito tempo na minha playlist. Valha-nos a identidade da banda que permanece intocável e inigualável. O som continua a ser Doomriders de caras, mas apenas isso não é suficiente. Melhor sorte para a próxima.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

baroness - blue record

Chamem-me exagerado ou nomes piores mas este álbum transpira a clássico por todos os lados. Disseram definitivamente adeus à sombra mastodónica que certo pessoal, com algum desdém e palas de burro, não deixava passar em claro, como se a banda não valesse mais que isso. Desta vez não há desculpas. Sente-se que é Baroness e apenas Baroness. E vale bem a pena.
Este “Blue Record” é mais adocicado se o formos a comparar com anterior “Red Album”. A palavra acessível, embora perigosa, não fica, de todo, desenquadrada do espírito do disco. Simplificaram-se processos. Fizeram-se canções de se colar à pele, que nos apanham numa fracção de segundo, e a faceta progressiva do grupo, embora não se esconda totalmente, surge mais envergonhada do que o normal, com medo de interpelar momentos que, pela sua harmonia e espontaneidade, definitivamente não o merecem.
Cada tema é um luxo. Não há temas bonzinhos sequer. Até o tema acústico, “Steel That Sleeps The Eye”, entranha-se depois de estranhado. Arrisco dizer que a “Jake Leg” é das melhores músicas que ouvi desde há muito tempo. Aquele riff serpenteante baralha-me todo só para depois me dar o prazer de me reencontrar. As outras não andam longe. Parece que nos pegam ao colo e nos embalam para fora daqui, para mundos mais aconchegados e pacíficos. Por outro lado, a afectividade com propósitos mais sensuais e rockeiros traduz-se num hipnotismo de cariz quase lascivo e carnal. Pecado-prazer que não cansa. A transversalidade do som que fazem é um trunfo em extinção nestes dias. Não há momentos pejados de agressividade, nem momentos muito maricas (vá, excluindo a balada atrás referida). Não há extremos. Só uma classe extrema. Vão à confiança. De longe, das melhores coisinhas que ouvi este ano.