quarta-feira, 16 de junho de 2010

nachtmystium - addicts: black meddle pt.II


Nothing hurts more than being born.
A minha expectativa em relação a este álbum era imensa e foi de certa forma gorada. Em parte porque, em busca da tão famigerada ruptura com o restante black metal, seus limites e preconceitos, os Nachtmystium criaram algo que só muito dificilmente caberá nesse parâmetro. Não estava à espera, e o primeiro contacto com o disco foi doloroso. Em maior parte porque este “Addicts” fica muito longe do anterior e obra-prima “Assassins”, em termos de inspiração.

A orientação deste álbum é muito mais rockeira, pop até, com canções directas e extremamente orelhudas, onde se misturam elementos industriais, electrónicos e algumas reminiscências do metal que lhes assentou ao longo dos anos. Mas não é isto, por si só, que me leva a torcer o nariz. Falta-lhe adrenalina, rasgos de alguma coisa que realmente me pulse o sangue. Não encontro o lado psicadélico que pautou o “Assassins”. Falta coesão, e os poucos blast beats soam-me deslocados do resto.
Há bons momentos, como é o caso da “Addicts” e da alienada “Blood Trance Fusion”, o melhor tema do álbum, que conta com pormenores tão estranhos como bem conseguidos. O registo vocal do Blake manteve-se áspero e encaixa surpreendentemente bem em campos mais luminosos. A produção foi trabalhada, e de certa forma ouvir o álbum pelos headphones potencia a descoberta do mesmo.
O disco acaba por ser simpático, mas provavelmente dirigido para o target errado. Se o “Assassins” foi um passo audaz, este mais audaz foi. Talvez em demasia.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

menace ruine - union of irreconcilables


Os canadianos Menace Ruine continuam a extremar aquilo a que gostamos de chamar música.
Não há uma transição brusca do anterior “The Die is Cast” para este. A cadência dos temas contínua muito ao sabor do drone e do folk algo disforme com correntes agrestes e medievais, não entrando em correrias e ímpetos do black que outrora ouvimos o grupo fazer. Mas é com camadas sucessivas de noise que se constrói grande parte do apocalipse que se vai abrindo perante nós. É esta faceta que torna o álbum absolutamente sinistro. Mais uma vez apanhados num ambiente morbidamente desolador e medonho, o envolvimento emocional com o que se ouve é um passo demasiado fácil, embora um estômago forte seja impreterível. A voz bastante característica da menina Geneviève continua-me estranha e bela, num registo limpo que, ainda assim, acentua a densidade dramática e obscura desta marcha maldita.
Grande viagem. Grande álbum. Grupo único.

sábado, 5 de junho de 2010

watain - lawless darkness


Passados 3 anos do excelente “Sworn to the Dark”, os suecos não esgotam aqui o seu característico manancial de sons infernais a louvar belzebu como se não houvesse amanhã. Parece-me até que este está ao nível do melhor que esta banda alguma vez fez.

Embora declaradamente black metal, os Watain têm muito mais que se lhe diga. Para além da fúria embrutecida e malvada e a atmosfera crua e negra, mas que tem o cuidado em não cair em campos onde os blast beats são inusitadamente constantes, há por aqui muita melodia delicada e agradável que facilmente fica no ouvido. Neste sentido é um disco menos directo que os antecessores, mas com um charme old school mais apurado, onde os solos de guitarra passeiam a sua classe e sobressai um lado mais thrashy do grupo. Um brilhante epílogo de 14 minutos põe um ponto de exclamação no significado da palavra “épico, uma toada que aliás atravessa o álbum transversalmente. Encantadora praga anti-cristã esta.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

trap them - filth rations

EP de quatro temas do melhor que os Trap Them têm para oferecer. A banda volta a mostrar que é muito mais do que raiva superiormente destilada, com temas que ora seguem furiosos, estranhos e doentios, ora nos abatem perversa e lentamente para o nosso próprio fundo. A destacar a “Carnage Incarnate” que é de brutalidade e musicalidade sublime, e dá o mote para que os restantes temas lhe sigam o rasto. Não há aqui, pois, nada que se possa dar ao luxo de desaproveitar. São 14 minutos para absorver uma e outra vez, até cair no ridículo.

É por estas e por outras que os Trap Them já me ganharam o estatuto de seguidor. Falta-me vê-los num palco.

terça-feira, 25 de maio de 2010

sepultura - beneath the remains (1989)


Há coisa de um mês fui vê-los a Corroios. Bom concerto. Limpei o pó e voltei a pegar nos clássicos.

Os Sepultura foram daquelas bandas que moldaram os meus gostos musicais de forma bastante vincada, naquela idade em que achamos que o que ouvimos é que é, e que os outros não percebem nada disto. A descoberta foi ao contrário. Álbuns sem o Max para mim não existiam. Primeiro, o “Roots”, depois “Chaos A.D.”. Se ao primeiro torci o nariz, o segundo continua a ser dos meus álbuns preferidos. O “Arise” é-me intemporal. A seguir viria o “Beneath The Remains”. Comprei o álbum sem ter ouvido sequer uma música dele (bons tempos), e sem qualquer tipo de referências de como soava ou deixava de soar.

Este é um daqueles felizes (a)casos em que se acha aquilo que realmente se procura na altura. O disco é um “Arise” sem travões. A banda fazia aqui a transição do death dos álbuns anteriores para um thrash brutal, cru e sem meias medidas, que se equiparava apenas ao que os Sodom ou os Slayer iam fazendo em termos de carga violenta. O ritmo é infernal de princípio a fim, cansativo até, na medida em que se tenta acompanhar o ritmo de todos os temas e somos levados a imaginar as gotas de suor a escorrerem pela cara dos músicos, mas nunca chega a aborrecer, por culpa da maioridade de cada um dos temas. Não há cá sons tribais, nem abordagens ao hardcore. Just thrash, plain and simple. E um dos melhores do seu género.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

metallica + volbeat + high on fire - lisboa, 18 de maio

Era a quinta, mas a primeira vez indoor. E com um tal de palco 360 graus.

Não sou um fanboy de High On Fire, longe disso. É uma banda que oiço e gosto. Umas vezes bate-me mais do que outras. Estava curioso para sentir ao vivo aquele peso cru e aquele thrashy sludge apodrecido, mas fiquei desiludido com as condições míseras dadas à banda. O som foi vergonhoso. A bateria mal se ouvia. Guitarra pouco perceptível. Só lhes foi permitido utilizar metade do palco e por isso tocaram de costas para metade da audiência. Trinta minutos e estava despachado. Enfim, mereciam melhor. Eles e os poucos que lá estavam para os ver. Mesmo assim deu para ver o virtuosismo dos três e sentir alguns dos temas do recente “Snakes For The Divine”. Fiquei parvo com o baixo e passei a maior parte do tempo a fisgá-lo, coisa que não é costume. Dadas as circunstâncias, a atitude do grupo foi exemplar. Mas eles bem sabem que aquilo não foi mais que uma amostra de concerto.

A presença dos Volbeat neste cartaz só tem uma justificação possível. São dinamarqueses e o Lars gosta de ser mandão. O que tinha ouvido antes do concerto foi-me medonho. Qualquer coisa entre o metal, o punk popularucho e o rockabilly com uma voz do piorio. Ao vivo ganham outra dimensão. A entrada dos tipos foi impetuosa e enérgica, e agora com todo o palco disponível, conseguiram mexer com o público. Mas cedo começou a cansar. As músicas pareceram-me todas muito similares e a descair para o azeiteiro, e até a repetição incessante do pedido da praxe do “make some noise” (não me lembro do gajo ter dito muito mais que isto durante todo o concerto) me começava a irritar. E aquela voz… A parte que mais gostei foi o riff da “Raining Blood”. Nem colhões tiveram para a tocar por completo.

Os Metallica não sabem dar maus concertos, por muita volta que se dê ao texto. Ter um público rendido à partida ajuda, mas, para mim, o factor diferenciador é mesmo o James. O homem é a essência da banda ao vivo, tem uma presença e um carisma desmedidos, e goza de uma empatia única com o povo. É o jogo do rei manda quando abre a boca.

Ainda a promover o “Death Magnetic”, o peso deste na setlist foi maior do que qualquer outro, com cinco temas ao todo. Começaram tal e qual o álbum com a “That Was Just Your Life” e a “The End Of The Line”, que saíram embrulhadas, muito por culpa da qualidade do som, mas daqui para a frente estabilizou para padrões aceitáveis se pensarmos que estávamos no PA. Seguiram-se algumas pérolas menos habituadas ao palco como o são a “Ride The Lightning” e a “Through The Never”, e até mesmo a recente “My Apocalypse” que funcionou muito bem e cuja pedalada o Lars até aguentou como um homenzinho. A “Fade To Black” é sempre um momento alto quando tocada, desta vez com um sentimento especial por ter sido dedicada ao Ronnie James Dio. Arrepiei-me. A “The Four Horsemen” para mim era obrigatória de cada vez que cá viessem. O único ponto que me resfriou os ânimos foi a “The Unforgiven III”, que eu acho mazinha e uma falta de respeito para com as outras duas.
O palco no centro do pavilhão tem tanto de bom, quanto de mau, pelo menos para quem esteve na plateia, mas acabei por gostar até pelo facto de ser diferente. Dá-nos a possibilidade de estar ali a poucos metros dos tipos sem que nos esmaguem entretanto, mas também há alturas em que não existe ninguém para olhar, apesar do esforço da banda em ter sempre um elemento em cada frente de combate.
O concerto lá prosseguiu com os habituais hits e entusiasmo exacerbado. Surpresas só mesmo no encore. A cover de Queen, “Stone Cold Crazy” e uma “Phantom Lord” inesperada e brutal que eu e mais meia dúzia de gatos-pingados cantámos até ficar sem voz. Tempo ainda para o filho do James subir ao palco e ouvir 20 mil gargantas cantarem-lhe os parabéns e para um intruso do público subir ao palco e dar uns toques na bateria do Lars, com consentimento do próprio. Acabou-se com a finisher “Seek and Destroy”, com as luzes acesas e com dezenas de bolas de praia a caírem sobre a plateia, o que deu um colorido diferente a um final mais que previsível.

O concerto acabou por superar as expectativas. O facto de ser indoor, não é, certamente a isso alheio. A ligação e a afinidade músicos/público são ampliadas, e ter um pavilhão daqueles cheio a cantar em uníssono, é algo que mete respeito. Mas não superou aquela coisa mágica de 2007.

sábado, 1 de maio de 2010

burzum - belus


Mais vale tarde do que nunca. Era no mínimo curioso saber o que se passava na cabeça do Varg, volvidos 16 anos de clausura. Ao que parece, durante esse tempo, o tipo alheou-se completamente do movimento norueguês que ajudou a edificar e a glorificar, musicalmente falando. Ora, de lá para cá o Black Metal sofreu muitas mutações, fundiu-se com o óbvio e com o menos óbvio e é hoje menos subversivo do que nunca. Para o Varg, foi então entrar numa realidade muito diferente da sua.

Pelo que se ouve neste “Belus”, foi para o lado que ele dormiu melhor. Não sou um conhecedor de lés a lés da discografia de Burzum, mas sei-lhe identificar a unicidade ambiental e sonora. Essa marca “Burzum”, não sai daqui beliscada, e, por ventura, ninguém estranharia se este álbum fosse lançado logo a seguir ao “Filosofem”.
A atmosfera, a produção crua, os riffs hipnóticos, a melancolia, o gelo. Está lá tudo de forma mais concisa e compacta, e sem desvarios ambientais de 25 minutos a meio do álbum (não é que eu não goste). Não me parece que o Varg tenha perdido a pica, e a composição de alguns temas atingem momentos de inesperada pompa, para os quais a grande maioria dos black metallers trabalha uma vida infrutiferamente. A harmonia de riffs que formam a “Glemselens Elv” transcende-me pela sua simplicidade e inspiração, pela possibilidade de duas guitarras ríspidas e agrestes criarem algo tão suave e melodioso, e aquela utilização dos samples na “Kaimadalthas' Nedstigning” não é menos que brilhante. O homem tem uma sensibilidade especial para a coisa, por mais controverso que seja e independentemente das suas crenças e personalidade. E isso pesa-me mais que tudo o resto.
Pouca gente esperava que saísse daqui uma coisa que competisse com os clássicos pré-1994. Agora há já quem diga que este “Belus” é o melhor da carreira de Burzum. Nem tanto, nem tão pouco. É capaz de ser o pedaço de black metal que mais me entusiasmou este ano, e teve a virtude de me por a descobrir o que faltava da carreira do norueguês. Depois fui fustigar-me para um canto.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

black breath - heavy breathing


O que é simples nunca deveria sair de moda. Se houve tempos em que muitas vezes torcia o nariz a coisas elementares porque me pareciam enterradas em moldes básicos, limitados e inócuos, hoje em dia reconheço-lhes a beleza quando se vestem com alma.

Já aqui tinha mandado uns lamirés lisonjeiros sobre o EP “Razor to Oblivion”. São quatro temas que ainda hoje não me cansam e que nem mesmo o lançamento deste “Heavy Breathing” veio atenuar-lhes a chama. Não quero dizer com isto que o álbum desagua numa desilusão, nem de perto nem de longe.
De certa forma está mais colado a Entombed que o EP, com uma aura mais negra e com mais riffs a fugir para o Death Metal sujo e sueco a juntarem-se a outros com inflamados pela fúria do Hardcore até ao pescoço. E digamos que está muito bom. As partes rápidas e embutidas de testosterona continuam-me a divertir à grande e a fazer-me imaginar no meio de um qualquer desnaturado pit, e o aparecimento inteligente de temas menos balançados, mas igualmente sãos e cheios de groove, aumenta o ciclo de vida do disco. Não há temas menores, o álbum flui com uma naturalidade invejável e quando se chega ao fim, repetir a dose é instintivo.
Este álbum segue o hábito de me infligir altas doses de vício. Entretanto já nem me lembro de Entombed, Dismember e outras que tais. A qualidade que já se ouve neste álbum de estreia supera qualquer tipo de “colanço”, descarado ou não. A continuar assim e temos aqui um caso sério. Disco irresistível e a figurar, a não ser que caia meio mundo, no meu top deste ano.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

the chariot + iwabo + the eyes of a traitor - music box, lisboa

À última da hora decidi pôr-me a caminho da Music Box, muito por culpa do que ouvi dizer sobre a actuação dos The Chariot no ano passado no mesmo espaço. Em boa hora.

Primeiro vieram os The Eyes Of A Traitor, banda noviça que desconhecia totalmente. O concerto dos britânicos disse-me que não ando a perder nada. Bastou-me ouvir o primeiro tema para saber todos os outros. Metalcore genérico que outras mil bandas fazem de igual maneira com os mesmos riffs melódicos e com os mesmos breaks cirurgicamente colocados e repetidos. Como é que ainda há quem aposte numa banda deste tipo é que eu não percebo. Pu-los num canto num instante, assim como a grande maioria da assistência que já compunha bem a plateia.

Os iwrestleabearonce são uma banda aparte. Ver uma plateia num impiedoso mosh pit transformar-se para uma pista de dança de uma qualquer discoteca numa questão de segundos, é coisa que nunca tinha visto e muito menos imaginado. Para além do peso embrutecido e respeitável que me espezinhou a cabeça e me estremeceu o corpo, foi esta atitude desconexa e de quase gozo musical ilógico que caracteriza a banda, e que esta transportou para cima do palco, que me fez gostar do concerto. Porque não é apenas pelos blast beats quase impraticáveis e riffs disparatados que o grupo tem o reconhecimento que leva hoje. Não deixei, no entanto, de ficar impressionado com a quantidade de miúdos que lá na frente gritavam as letras de cor junto da menina Krysta, que, por sinal, tem um vozeirão ao vivo que em nada fica a dever ao registo em disco. O palco era só sorrisos por entre esgares de dor e de satisfação. A espalha-brasas e folgazona “Tastes Like Kevin Bacon” terminou a festa em altas, com aquela corneta a anteceder um verdadeiro deslargar colectivo de consciência.

Os “The Chariot” começaram com o pé esquerdo. Primeiro, um problema no microfone do vocalista fez demorar o início do concerto. A tensão acumulada da espera explodiu numa “Teach:” cantada com alma e com o grito “But I refuse to breathe the breath of the failure!” a fazer-se ouvir bem longe dali. Estava o motim instalado. Uma “Evolve” depois e outro problema técnico, desta vez com a bateria, o que obrigou o Josh a um discurso de encher chouriços durante alguns minutos. No fim ninguém se lembrou destes contratempos.
Não estarei a exagerar se disser que os The Chariot foram a banda mais enérgica, intensa (no sentido mais lato do termo) e fora de si para além do que se considera razoável que vi em cima de um palco. O que ali se passou foi um deboche de proporções épicas. Perdi a conta às vezes que o baixista e o guitarrista se lançaram para cima do público, cegamente e/ou convictamente, com os respectivos instrumentos. Enquanto isso, o Josh trepava paredes como se não houvesse amanhã e apregoava lá de cima a sua razão. A troca de papéis entre o Josh e o Jon, deu para ouvir uns acordes da “Seven Nation Army” dos The White Stripes, enquanto este último andava hirto sobre as cabeças do público tal e qual nosso senhor Jesus Cristo que eles tanto adoram, sobre a água. Em cada acorde urgia uma atitude pujante, afirmativa e espalhafatosa. Menção honrosa para o baterista (David Kennedy) que tocava como se a sua vida dependesse da força com que massacrava bombos e pratos. Enfim, pareciam miúdos possuídos a sentirem a sua banda preferida. Sublinhe-se essa paixão. Esta força foi de tal forma contagiante que é uma redundância dizer que o povo imitou-os na plateia. Aliás, o público português parece ter caído nas graças do grupo, arrisco dizer, muito devido ao concerto do ano passado, o qual mereceu até uma alusão especial por parte do Josh. Esta anarquia em ponto pequeno rolou durante cerca de 40 minutos e acabou em beleza com o público em cima do palco, ao som da “The Deaf Policeman”, numa comunhão entre todos como já não via há muito.

Se alguma vez alguém vos vier com adjectivos hiperbólicos e mirabolantes sobre um concerto dos The Chariot, muito provavelmente esse alguém não vos está a pregar nenhuma mentira, por muito que vos possa parecer. Quando cá voltarem, a minha presença é-me impreterível.

domingo, 28 de março de 2010

the dillinger escape plan – option paralysis


É um dado garantido que um mau disco, ou até mediano, daqui dificilmente sairá. O estatuto que os The Dillinger Escape Plan granjearam álbum após álbum assim o dita.
O início deste quarto é um perfeito prenúncio de que vem aí outra obra-prima. “Farewell, Mona Lisa” é um excelente reflexo do que é a banda hoje, ao variar a impetuosidade descontrolada com momentos de puro êxtase melodioso de proporções, não raras vezes, épicas. O álbum desenrola-se na fúria habitual destes, mas não vulgar, que nos põe pela milésima vez a cabeça a latejar e a desencadear reacções corporais pouco sãs, mas também esbarra-se como nunca antes na voz limpa e melosa do Greg Puciato e em segmentos do tipo “depois da tempestade, vem a bonança”, se bem que a ordem de acontecimentos nem sempre é essa. Apesar da maior variedade e variação intra-temas, o mesmo não se sente quando os comparamos entre eles. Há menos espaço para a experimentação, não há temas instrumentais e completamente desconectados da realidade ou de algum tipo de senso, embora existam nuances neste capítulo, como é o aparecimento do cada vez menos tímido piano em algumas músicas. É por isso um álbum mais homogéneo do que seria de esperar o que não é negativo nem positivo por si só.
A esquizofrenia de sons e de estados de alma com que o grupo me violenta continua, porém, bem como os momentos que me deixam de queixo caído, envoltos numa cápsula desta vez mais negra, estranha e sombria. Cada vez que ouvi o álbum, gostei mais dele, embora não me tenha impactado como os outros. No contexto da carreira dos TDEP acho-o menos inspirado, com menos momentos memoráveis, o que não é suficiente para me deixar com um amargo de boca que seria de todo injusto dada a grandeza musical que aqui se ouve.

terça-feira, 23 de março de 2010

darkthrone - circle the wagons


A cena norueguesa deve estar-lhes grata.
Este disco segue o caminho iniciado pelo “The Cult is Alive”, por isso não esperem mais uma fractura sonora pouco ortodoxa em relação ao que têm feito desde então. Ao longo do álbum apercebemo-nos que o black e o death metal já nem nos (lhes) passa pela cabeça, e que o punk não lhes faz justiça. É Darkthrone, e engavetá-los é pouco legítimo.

I am the graves of the 80’s… destroy the modern metal and bang your fucking head!

O espírito do álbum é no entanto metal até à medula, e de uma maneira muito reminiscente, retro até. Sente-se uma celebração da simplicidade e honestidade do metal dito antigo, numa espécie de homenagem aos de então que não vem de agora. Confirma-se o respirar de ares abafados e putrefactos num absoluto degredo que nos leva a uma ruína humana que entretém e alegra. Depois, continuam a cuspir classe e insolência a cada riff, com uma pose e atitude altivas e rudes, que lhes pertencem por natureza.
Não há aqui nada de novo para a carreira dos Darkthrone. Melhor dito, não há aqui nada que os Darkthrone não tenham já feito. Não está ao nível do “F.O.A.D”, para mim o melhor álbum desta fase do grupo, mas o som continua a ser absurdamente acessível e viciante, e no fundo é isso que os mantém na corrida. Os protestos de sell-out devem-se repetir. Enquanto assim for…

sexta-feira, 19 de março de 2010

mono + löbo - musicbox, lisboa

Entrei à hora combinada, já com os Löbo a dar os primeiros acordes. Já tive a oportunidade de lhes fazer jus quando escrevi sobre o EP (oficial?) deles e quando abriram para Men Eater. Se soubesse, inventaria palavras de jeito para elogiar estes tipos. Sem rodeios, esta é uma das melhores bandas do nosso underground. E ainda nem lançaram um álbum. Concerto onde o negro serve de encosta para riffs pesados, e poucas vezes este adjectivo fez tanto sentido, que nos afligem a consciência de forma lenta, arrastada e doentia, e nos amassam o corpo para feitios pensativos e carrancudos. A passagem para outra dimensão espacial é feita de testa franzida, convicto de que o que estou a ouvir é uma dualidade entre o inocente e o atroz, entre o humano e desumano. No palco é, por isso, tudo hiperbolicamente sentido de princípio a fim, num transe que se funde com o êxtase em momentos cruciais. Foi assim que me deixaram. No fim, ouviu-se o queixume de muita malta sobre os apenas 30 minutos de actuação.



Ouvi maravilhas sobre Mono ao vivo. Gosto anormalmente da banda, se tiver em conta o género de música que toca. Há poucas bandas estritamente de post-rock que me levam a ouvi-las mais que uma vez com atenção. No entanto, os Mono devem ser o grupo do estilo que mais me puxa, se excluirmos Godspeed You! Black Emperor. Há aqui qualquer coisa que me parece especial.
Despache-se o negativo. Tendo em conta que os dois guitarristas passam grande parte do concerto sentados, que a baixista ainda os imita quando vai tocar piano (que eu não cheguei sequer a perceber se estava no palco), e que eu não estava nas duas primeiras filas da plateia, houve alturas que estava a olhar para um palanque vazio. O MusicBox nunca será um espaço apropriado para os japoneses, mas, enfim, havia que por isso de lado.
Foi dada natural primazia ao último álbum, que durante muito tempo fez parte da minha playlist e agora voltou. “Ashes in the Snow” e “Burial at Sea” iniciaram a massagem cerebral de uma hora e meia. Os contornos emocionais e poéticos do som dos Mono, ganham ao vivo uma extensão que os agiganta para patamares memoráveis. Este concerto foi um salto para o meu lado fraco e susceptível. Foi de livre vontade que fiquei desarmado, dormente a ponto de me desequilibrar (literalmente), num estado que se podia confundir com o sonambulismo. Via no palco (quando dava) músicos genuinamente egoístas. Tocavam para si, como se fosse a primeira vez, entregavam-se ao que ouviam e sentiam aquilo que completavam. Pedir mais é abusar da sorte. As explosões após os crescendos batem com um peso e intensidade agradavelmente profundos, mas nem por isso me acordam do meu ser paredes feitas entre o sono e o encanto. Um instante depois e estava a dar as palmas de despedida.
A casa esgotada um mês antes é plenamente justificada. E sim, eles têm algo de especial, que disfarça a evidente repetição da fórmula estrutural de algumas músicas. A seu favor têm a criação de momentos absolutamente sublimes capazes de me arrepiar nos meus dias mais insensíveis. Até breve, Mono.

domingo, 14 de março de 2010

rebellion tour 2010 - essigfabrik, colónia

Cheguei a Colónia por volta das 3 da tarde. Em 10 minutos encontrei o hostel onde ia passar a noite, subi para vestir algo mais confortável, e fui dar uma volta pela cidade para conhecer um pouco das zonas turísticas. Eram perto das 6 da tarde quando peguei no meu rudimentar Google Map e me encaminhei para o local do concerto. Depois de cerca de 40 minutos a andar, dei por mim numa zona industrial do outro lado do rio. Quando comecei a achar que me tinha perdido, vejo um enorme grupo de pessoal reunido à porta de umas das fábricas. Tinha finalmente encontrado a Essigfabrik, sala onde dentro de instantes tomaria inicio mais uma noite da Rebellion Tour. A heterogeneidade reinava por aqueles lados. Grupos de pessoal da velha guarda, putos novos de mochila as costas, muita malta a exibir orgulhosamente o seu X na mão, e por fim uns quantos casos isolados, tal como o meu, que vieram de outro país na esperança de passarem uma boa noite. Também engraçado, foi o facto de estar uma pequena tenda montada à porta da venue, com pessoal a vender uma tal de Vegan Fast Food. Tendo em conta os graus negativos que se faziam sentir, a ideia de uma sandes quente era, no mínimo, apelativa. Numa agradável surpresa, os 3 euros que gastei na sandes, mantiveram-me satisfeito para o resto da noite. Boa onda! Ainda que vincado pelo mainstream do Hardcore, este era um line-up que eu dificilmente poderia perder. Pica a montes para ver pela primeira vez Cruel Hand, a esperança de um concerto de Terror oposto ao que vi em Portugal no último ano, e por fim, as saudades de voltar a ver a banda que provavelmente mais me marcou – Madball – foram motivos mais que suficientes para fazer esta pequena viagem até à Alemanha.

A noite começou com os The Setup, a única banda europeia nesta tour. Da minha parte, posso dizer que desconhecia o som da banda, e pelo que vi, os alemães também não me pareceram ser grandes fãs. O som pareceu-me cansado, não acrescentando muito àquilo que a generalidade do pessoal conhece. O resultado foi um vocalista a pedir insistentemente o apoio do público, sendo apenas correspondido por um super ninja que aproveitou o espaço que ainda havia na frente para dar umas piruetas, uns mortais, e uma quantidade ridícula de acrobacias que ele para lá fez. Para mim, a noite iria começar de seguida.

Cruel Hand. 2-step, 2-step!
É ridícula a quantidade de vezes que já ouvi os albúns destes rapazes. Assim que a guitarra deu o primeiro acorde foi impossível não ir lá para a frente curtir. “House Arrest” abriu as hostes, seguida de imediato pela “Life in Shambles”! A energia que o vocalista tem é um completo disparate, e rapidamente essa energia se começou a transmitir para o público. Ainda que a adesão não tenha sido em massa como se verificou nos concertos que se seguiram, não foi preciso muito para o espaço na frente se transformar numa pista de dança para o pessoal que, tal como eu, sente o som desta banda. Sides-to-side, slam dance, e muito, muito 2-step. Com muita pena minha, a banda não tocou mais de 35 minutos, o que ainda assim, foi suficiente para cobrir uma boa quantidade de temas dos dois álbuns. Como disse e volto a repetir, este é um concerto que fica marcado sobretudo pela energia e intensidade com que o vocalista vive o momento. Brutal! Melhor só com uma sala mais pequena e um ambiente mais familiar. Espero poder vê-los de novo.


Death Before Dishonor. Sing-along!
Impressionante a quantidade de fãs que esta banda de Boston arrasta. Do inicio até ao fim, houve sempre pessoal colado ao palco a cantar todas as letras da banda. À semelhança do que aconteceu na última vez que os vi no Tuatara em Alvalade, o concerto abriu com a Intro e respectiva continuação – “Count me in”. O moshpit agitou e de que maneira. Dançava-se menos, os circle-pits eram constantes, e a banda sem dúvida deixou tudo o que tinha em palco. Sem dúvida o melhor concerto que vi da banda. Notou-se ainda a diferença no público sempre que se tocaram músicas do álbum mais recente, que de certa forma, até surgiu como uma boa surpresa no percurso que a banda tem feito. As vozes de toda a sala uniram-se para cantar o original de Cock Sparrer, agora adaptado para Boston. “Boston Belongs to Me” é sempre uma festa, e dá gosto ver como o pessoal curte este som, saltando e cantando sempre com um sorriso de puto na cara. Óptimo concerto, que facilmente superou as minhas expectativas.


Terror. Duro, muito duro!
A sala escurece, e ao estilo do inicio do MCD de Steal Your Crown, começa um beat pesadão que sufocou todo e qualquer um que estivesse dentro daquela sala. O beat esmurece, o baixista vem na frente de óculos escuros, e atrás dele todo o resto da banda. Bateria e guitarras aceleram! “Lowest of the low”!!! A chapada instala-se na sala, dou 3 passos atrás, e sem saber de onde, sou arrastado para o meio do pit. Se não os consegues vencer, junta-te a eles. Foi provavelmente das entradas mais brutas que alguma vez vi num concerto. Com álbum novo ainda a ser preparado em estúdio, não esperava grandes novidades na setlist da banda. Tal como eu gosto, foram temas atrás de temas dos dois primeiros full-length da banda. Se antes o stage dive não tinha sido uma opção muito usada, aqui voavam pessoas do palco de 5 em 5 segundos. A conversa do costume sobre o concerto estar a ser “um dos melhores da tour até agora”, pareceu-me de tal maneira verdadeira, que não imagino uma performance conjunta de banda e público melhor que esta. Se em Portugal o último concerto foi 8, ali foi 80. Os clássicos do “One With the Undergods” e do “Lowest of the Low” estiveram lá todos, e cada um deles com uma dimensão animalesca. A merecer nota por parte do Scott Vogel, foi a importância de não estarem (ou pelo menos aparentava) gajos de extrema-direita por aquelas bandas. A salva de palmas que se seguiu falava por sí - “No Hardcore não há espaço para essas pessoas!”. Fazendo o devido spoiler alert, este foi o melhor concerto da noite, e provavelmente o melhor concerto de Hardcore em que alguma vez estive presente.


Madball. New York finest Hardcore!
Este foi um concerto que explica o porquê desta banda continuar a ser a predilecta do meu coração. Ainda que o concerto de Terror tenha sido o melhor da noite, este foi sem dúvida o melhor concerto que vi de Madball. Após tantos anos disto, a energia continua lá! “Demonstrating My Style” foi o sinal de partida para se instalar o caos entre o público. Para meu delírio, também aqui a banda resolveu abrir o baú e sacar lá de dentro todos os clássicos possíveis. Respirava-se ar das ruas de Nova Iorque em Colónia. “Set it Off”, “Smell the Bacon”, “Get Out”, “Streets of Hate”, “Across Your Face” meteram o público em completo estado de histeria. E por falar em público, tenho que mencionar novamente o vocalista de Cruel Hand. Tanto em Terror como em Madball, este rapaz parecia que tinha o diabo no corpo! Se houvesse competição de stage dives, com certeza ele seria o vencedor. A última vez que o vi, tinha acabado de dar headwalk de provavelmente uns 5 passos. Para o último tema da banda, o microfone foi partilhado por 3 vocalistas – Freddy e ambos os vocalistas de Cruel Hand e DBD. Escusado será dizer que passados 30 segundos da “Times Are Changing” o público invadiu o palco por completo. Terminou em beleza, quase que me sentia em casa.



Ainda que não tenha tido o prazer de assistir a esta noite com amigos do meu lado, esta foi provavelmente a melhor noite de concertos em que estive presente. Um big up para o público alemão, que se revelou em tudo superior ao público que tenho apanhado na Holanda. De Colónia levei sem dúvida as melhores memórias.