quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

sunn o))) + eagle twin - lx factory

Há muito que ansiava por este concerto. Há uma aura mística, de mistério e de opacidade à volta dos Sunn o))), coisa que ao vivo adensa-se através do eco de opiniões extremas e contrastantes. A premissa de algo único e inenarrável acompanhou-me no caminho até Alcântara.

Nunca tinha ido à LX Factory. Pareceu-me um sítio indicado para este evento. Bastante despido, podre e sombrio. À entrada foi-me dado gentilmente um par de tampões para os ouvidos, facto que só por si aumentou-me a curiosidade em relação ao nível de agressão sonora a que estaria ali exposto. Seria um cuidado exagerado? O volume ganharia contornos insuportáveis? A verdade é que os tampões foram imprescindíveis em ambos os concertos para quem ainda tem uma réstia de amor pela própria audição.

Mas não menosprezemos os Eagle Twin. Já tinha escrito sobre o único álbum da banda aqui, e para mim foram uma das grandes e boas surpresas do ano que passou. O concerto foi no mínimo agradável. Uma espécie de medley de 50 minutos onde os temas do disco eram intercalados com momentos mais ou menos improvisados, como se estivessem numa qualquer garagem a tocar para eles próprios. Na plateia, parecia imbecil acreditar que apenas duas pessoas poderiam montar tal chavascal sonoro com tanta pujança. O som que me chegava era bruto, áspero e honesto, a um volume que me parecia na altura bastante abrasivo (a quantidade de amplificadores em palco era impressionante).
Estranha a forma como a guitarra conseguia criar múltiplas texturas, ao ponto de ainda me por a pensar nisso. O baterista, Tyler Smith, foi das coisas mais animais que vi sentado atrás de pratos e tambores, com uma força e alma inesgotáveis. Foi belo ver a harmonia e cumplicidade entre os dois membros da banda, a maioria do tempo virados um para o outro, e talvez tenha sido este o ponto que mais gozo me deu ver.



O concerto dos Sunn O))) começa antes de se ouvir qualquer acorde. Máquinas lançam fumo no palco e formam um nevoeiro cerrado de tons premonitórios que ia chamando aquele pessoal que só se aproxima do palco à última da hora, embora o vislumbre de qualquer acção no mesmo seja impossível a escassos metros de distância. Durante coisa de 20 minutos o panorama foi este. O impacto do primeiro acorde foi assustador. A parede sonora é de tal forma abissal que tremo todo até à ponta dos cabelos. Sinto o som a bater-me na cara como se cada acorde fosse uma corrente de ar perversa. De repente pára-se no tempo e está-se noutra qualquer dimensão de contornos misantropos e macabros. Não sei muito bem como hei-de estar perante acordes que vêem de 5 em 5 minutos e que muitas vezes me atingem com um arrepio na espinha. Há um misto de emoções difícil de explicar. O abandono funde-se com o medo e muitas vezes sou atacado por um estado de letargia profundo. Olho para o palco, para o chão, para o infinito, para o nada, olho em volta. Sente-se um hipnotismo colectivo unido pela atmosfera lúgubre e transcendental mas que é experienciado de várias formas. Há quem não tire os olhos do palco, outros que os fecham, outros há que passeiam pensativos por entre a plateia e ainda quem se sente no chão num transe sem rumo.
A invulgaridade destas reacções está a par com o que se passa em palco. Por entre sombras, poses teatrais, lasers e uma máscara de carne putrefacta, a imponência do Attila intimida e grande parte da atenção que dei ao palco foi-lhe dirigida. De resto, não sei muito bem o que se passou ali em cima ao longo de quase duas horas. Reconheci alguns acordes de temas gravados em disco, mas a maior parte do concerto é em registo de improviso ou qualquer coisa parecida com isso, o que confere a cada show do grupo um grande grau de singularidade. Só depois de tudo acabado é que alguém se atreveu a bater palmas.

A experiência é mais sensorial que musical. Fisicamente e mentalmente é um ensaio que destoa de forma abismal com todo e qualquer tipo de espectáculo que tenha presenciado. Esta é, por isso, a review mais pobre que escrevi sobre um concerto porque não lhe faz jus nem de perto, nem de longe. Só mesmo lá estando.
Findo o concerto, senti uma acalmia um tanto ou quanto estranha, uma sensação de catarse e uma dormência mental difíceis de explicar.
O mito assenta-lhes perfeitamente.

1 comentários:

Timóteo de Azevedo disse...

como é que isto me passou completamente ao lado? :O

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