sexta-feira, 19 de março de 2010

mono + löbo - musicbox, lisboa

Entrei à hora combinada, já com os Löbo a dar os primeiros acordes. Já tive a oportunidade de lhes fazer jus quando escrevi sobre o EP (oficial?) deles e quando abriram para Men Eater. Se soubesse, inventaria palavras de jeito para elogiar estes tipos. Sem rodeios, esta é uma das melhores bandas do nosso underground. E ainda nem lançaram um álbum. Concerto onde o negro serve de encosta para riffs pesados, e poucas vezes este adjectivo fez tanto sentido, que nos afligem a consciência de forma lenta, arrastada e doentia, e nos amassam o corpo para feitios pensativos e carrancudos. A passagem para outra dimensão espacial é feita de testa franzida, convicto de que o que estou a ouvir é uma dualidade entre o inocente e o atroz, entre o humano e desumano. No palco é, por isso, tudo hiperbolicamente sentido de princípio a fim, num transe que se funde com o êxtase em momentos cruciais. Foi assim que me deixaram. No fim, ouviu-se o queixume de muita malta sobre os apenas 30 minutos de actuação.



Ouvi maravilhas sobre Mono ao vivo. Gosto anormalmente da banda, se tiver em conta o género de música que toca. Há poucas bandas estritamente de post-rock que me levam a ouvi-las mais que uma vez com atenção. No entanto, os Mono devem ser o grupo do estilo que mais me puxa, se excluirmos Godspeed You! Black Emperor. Há aqui qualquer coisa que me parece especial.
Despache-se o negativo. Tendo em conta que os dois guitarristas passam grande parte do concerto sentados, que a baixista ainda os imita quando vai tocar piano (que eu não cheguei sequer a perceber se estava no palco), e que eu não estava nas duas primeiras filas da plateia, houve alturas que estava a olhar para um palanque vazio. O MusicBox nunca será um espaço apropriado para os japoneses, mas, enfim, havia que por isso de lado.
Foi dada natural primazia ao último álbum, que durante muito tempo fez parte da minha playlist e agora voltou. “Ashes in the Snow” e “Burial at Sea” iniciaram a massagem cerebral de uma hora e meia. Os contornos emocionais e poéticos do som dos Mono, ganham ao vivo uma extensão que os agiganta para patamares memoráveis. Este concerto foi um salto para o meu lado fraco e susceptível. Foi de livre vontade que fiquei desarmado, dormente a ponto de me desequilibrar (literalmente), num estado que se podia confundir com o sonambulismo. Via no palco (quando dava) músicos genuinamente egoístas. Tocavam para si, como se fosse a primeira vez, entregavam-se ao que ouviam e sentiam aquilo que completavam. Pedir mais é abusar da sorte. As explosões após os crescendos batem com um peso e intensidade agradavelmente profundos, mas nem por isso me acordam do meu ser paredes feitas entre o sono e o encanto. Um instante depois e estava a dar as palmas de despedida.
A casa esgotada um mês antes é plenamente justificada. E sim, eles têm algo de especial, que disfarça a evidente repetição da fórmula estrutural de algumas músicas. A seu favor têm a criação de momentos absolutamente sublimes capazes de me arrepiar nos meus dias mais insensíveis. Até breve, Mono.

2 comentários:

Ema disse...

wow, esta review é de peso. muito boa escrita, e muita inveja de ter perdido isto.

Gonçalo Dias disse...

É, de facto, algo que merece ser sentido. Dados os dois concertos esgotados em poucos dias cá no burgo, é bem possível que cá voltem. Noutro espaço, com outras condições, espero.

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