sábado, 1 de maio de 2010

burzum - belus


Mais vale tarde do que nunca. Era no mínimo curioso saber o que se passava na cabeça do Varg, volvidos 16 anos de clausura. Ao que parece, durante esse tempo, o tipo alheou-se completamente do movimento norueguês que ajudou a edificar e a glorificar, musicalmente falando. Ora, de lá para cá o Black Metal sofreu muitas mutações, fundiu-se com o óbvio e com o menos óbvio e é hoje menos subversivo do que nunca. Para o Varg, foi então entrar numa realidade muito diferente da sua.

Pelo que se ouve neste “Belus”, foi para o lado que ele dormiu melhor. Não sou um conhecedor de lés a lés da discografia de Burzum, mas sei-lhe identificar a unicidade ambiental e sonora. Essa marca “Burzum”, não sai daqui beliscada, e, por ventura, ninguém estranharia se este álbum fosse lançado logo a seguir ao “Filosofem”.
A atmosfera, a produção crua, os riffs hipnóticos, a melancolia, o gelo. Está lá tudo de forma mais concisa e compacta, e sem desvarios ambientais de 25 minutos a meio do álbum (não é que eu não goste). Não me parece que o Varg tenha perdido a pica, e a composição de alguns temas atingem momentos de inesperada pompa, para os quais a grande maioria dos black metallers trabalha uma vida infrutiferamente. A harmonia de riffs que formam a “Glemselens Elv” transcende-me pela sua simplicidade e inspiração, pela possibilidade de duas guitarras ríspidas e agrestes criarem algo tão suave e melodioso, e aquela utilização dos samples na “Kaimadalthas' Nedstigning” não é menos que brilhante. O homem tem uma sensibilidade especial para a coisa, por mais controverso que seja e independentemente das suas crenças e personalidade. E isso pesa-me mais que tudo o resto.
Pouca gente esperava que saísse daqui uma coisa que competisse com os clássicos pré-1994. Agora há já quem diga que este “Belus” é o melhor da carreira de Burzum. Nem tanto, nem tão pouco. É capaz de ser o pedaço de black metal que mais me entusiasmou este ano, e teve a virtude de me por a descobrir o que faltava da carreira do norueguês. Depois fui fustigar-me para um canto.

1 comentários:

Anagrama Orgânico disse...

Parece vir a seguir ao Filosofem porque as musicas foram todas compostas nessa altura (há uma de Uruk-Hai e só as letras é que foram escritas agora). Gostei.

Enviar um comentário