sábado, 21 de março de 2009

priest feast - judas priest + megadeth + testament

O Pavilhão Atlântico transformou-se numa máquina do tempo. Três bandas da mais fina casta metaleira, e que ficarão para a história do género, juntaram-se finalmente em Lisboa, num festim que prometia juntar miúdos e graúdos de todos os pontos do país. É também esta militância quase de cariz sagrado que torna estes eventos especiais, com o convívio, bem regado, e a camaradagem a fazerem-se sentir bem antes de qualquer coluna de som apregoar algum tipo de ruído. Foi rodeado por este espírito que se entrou no recinto.

Ainda o pavilhão procurava a melhor compostura, quando os Testament estrearam o palco. Começaram, inclusive, antes da hora prevista, o que para um dia de semana e com início marcado para as 19.30h… enfim. Começaram com a já esperada “Over the Wall” e logo ali foi-lhes ditada a sina do concerto. Som péssimo, a roçar o vergonhoso, para uma banda da craveira dos Testament. No entanto, este contratempo não diminuiu o entusiasmo do pessoal do pit, e muito menos da própria banda. Sempre com um sorriso para dar aqui e ali, sem grandes correrias que a idade já não está para isso, Chuck Billy puxava pela plateia, enquanto Eric e Alex iam transpirando solos virtuosos que mal se deixavam perceber no meio de uma embrulhada de som estupidamente alto. Ainda assim, as primeiras gargantas em uníssono fizeram por se ouvir em alguns temas. Fecharam 40 minutos depois com o tema título do (excelente) último álbum “ The Formation of Damnation”, num concerto que esteve a anos-luz daquilo que deveria ter sido.

Foi Megadeth a banda responsável por ter deixado o conforto do lar naquela noite. Este ponto foi, parece-me, comum à maioria dos presentes. Com a popularidade que a banda goza cá no burgo, é estranho termos que esperar quase dez anos para ver o senhor Mustaine novamente, mas a demora acabou por afiar a expectativa em relação a esta aparição. Começaram de forma frouxa demais, com a “Sleepwalker” do último álbum que só está no set porque tem de ser. Despachada a dita, e finalmente com uma qualidade de som condizente, começou o desfile de clássicos que pôs a plateia, já muito bem composta, em alvoroço. “Wake Up Dead” fez subir a temperatura para níveis até então desconhecidos. Na “A Tout Le Monde”, deixou-se de ouvir o Mustaine por momentos. Ninguém gosta, mas toda a gente cantou. Limitados a uma hora de actuação, com direito a cronómetro no palco e tudo, a banda lançou os temas uns a seguir aos outros duma forma irrepreensível. Mustaine continua mago e mestre na guitarra, e mostrou-se até surpreendentemente bem disposto, ele que anda pelo palco mais vezes carrancudo e estático do que outra coisa qualquer. Aquele riff inicial da “Symphony of Destruction” tem um poder quase inexplicável e místico, principalmente sobre uma geração que no início dos anos 90 começava a entrar nas lides metálicas. Junto ao palco, corpos amontoavam-se no fosso, como nem antes, nem depois, foi visto. Acabaram da melhor maneira possível com a tripla “Hangar 18”, Peace Sells” e “Holy Wars”, hinos intemporais que deixam qualquer um de rastos e com a goela irritada. Concerto que pecou apenas por ser curto, por isso venham mais vezes que eu agradeço.

Esperada meia hora, entraram os senhores que deram nome ao Fest. O último álbum, “Nostradamus”, tem divido opiniões mesmo dos fãs mais acérrimos, por ser conceptual e menos imediato, mas foi a intro e o segundo tema deste registo, “Prophecy”, que começaram o concerto. A primeira impressão é de profissionalismo. Espectáculo muito bem arranjadinho (se calhar até demais). Painéis de fundo iam mudando a cada tema, adereços diversos, e até os movimentos dos protagonistas pareciam medidos a régua e esquadro. Rob Halford continua a ser o carisma da banda, digo eu, e é para onde os olhos da plateia se desviam mais vezes, quer pela voz que, embora já tenha conhecido melhores dias, é ainda motivo de admiração para muitos, quer pelas suas vestimentas espampanantes. Isto apesar de se movimentar qual velho de 70 anos (eu sei, já esteve mais longe). Relativamente cedo no alinhamento surge o clássico “Breaking The Law”e a primeira explosão de energia do público, a qual só foi igualada bem mais tarde com a “Painkiller”. Não sei se o problema foi do desconhecimento geral do repertório da banda por parte da maioria do povo, ou se da pouca espontaneidade do Rob e sus muchachos, mas a verdade é que escassos foram os momentos de total comunhão entre as duas partes. Ainda assim, destacaram-se a “Hell Bent For Leather” e a “You´ve Got Another Thing Comin’", que ditou a despedida de quase duas horas de concerto que me suaram mornas demais para aquilo que era a minha expectativa. Não digo, no entanto, que não tenha feito as delícias dos fãs junto às grades.

Foi, no geral, uma bela noite de metal, que facilmente ficará na memória de muitos dos que lá estiveram. Parece que fomos 8000 num dia de semana. Que se abram, então, portas para que mais bandas deste calibre passem por cá.

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