quarta-feira, 22 de abril de 2009

löbo - alma


Abram alas para um dos projectos mais interessantes e singulares surgidos ultimamente neste nosso cantinho no que toca à música pesada. Primeiro, porque praticam um tipo de som que não ouvi noutra banda portuguesa. Depois, porque são realmente bons naquilo que fazem, num estilo, diga-se, em que é difícil sê-lo e em que a linha entre o secante e o marcante é bastante ténue. Neste EP de estreia deixei-me ficar pelo segundo universo.

A “Alma” destes rapazes está reflectida ao longo de 4 actos instrumentais, que se estendem por cerca de 35 minutos de pura introspecção musical e cuja noite é parceira e cúmplice. O primeiro acorde é de um peso imperial e arrastado até ao limite, a precaver traços Drone/Doom intrinsecamente cravados na identidade da banda, por sinal bastante desenvolvida para a idade. Começo a sentir-me lentamente esmagado. Empurrado para o fundo. Ao que parece, aqui em baixo a alma mede-se com as mãos cheias de pedras. E é quando nos sentimos totalmente submersos em sonhos pintados de negro que laivos de alguma claridade ousam aproximar-se, sem que cheguem perto o suficiente para que os possamos agarrar. Nem será essa a intenção. Aqui atmosferas sombrias envolvem-nos em estados de acalmia, melancólicos até, mas que de certa forma nos são acolhedores. Deixamo-nos embalar. Estruturas e sons encantam-nos pelo seu aspecto despido de qualquer tipo de complicação, mas não de sentimento. É esta coisa que não se explica mas se sente. Um élan especial que nos molda o espírito enquanto aqui estamos ligados.

Tal e qual lobo solitário e altivo, a grupo vagueia em terrenos onde a visibilidade é torcida pela escuridão. Talvez por isso nos deixemos levar por outros sentidos, mais apropriados para estas sonoridades que clamam pela nossa entrega absoluta, e que assim nos conduzem para longe daqui. A noite veste-se de gala para ouvir isto.

Download

0 comentários:

Enviar um comentário