quinta-feira, 16 de abril de 2009

menace ruine - the die is cast


Há qualquer coisa de misterioso e de assustador que me prende aqui. A peça já data de finais do ano passado, altura em que a ouvi pela primeira vez. Lembro-me de ter sido uma experiência algo desconfortável, não porque o som me tenha desagradado de todo, mas porque o que se ouvia parecia genuinamente macabro e fúnebre. Tem, no entanto, e ao mesmo tempo, uma aura estranhamente sedutora e fascinante, que me fez criar uma nota mental deste registo mesmo sem o ouvir mais vezes, coisa que só fiz meses depois, para agora finalmente, o assimilar por inteiro.

Os Menace Ruine são coisa nova. Moço e moça canadianos juntaram-se em 2007 e têm até então dois álbuns, ambos lançados em 2008, sendo este o segundo. Se o primeiro, de seu nome "Cult Of Ruins", era uma máquina impiedosa de Black Metal, aqui os ritmos baixam consideravelmente para melodias majestosas abraçadas por ambientes que, de tão negros e gélidos, chegam a meter medo. Tudo arrumado numa obscura caixinha de Drone e Noise que dispara distorção a rodos e ondas sonoras agrestes e infernais. Pelo meio, a voz doce e pesarosa da menina Geneviève como que pinta as paredes de som em tons surrealistas e místicos, paredes essas que parecem estreitar para níveis claustrofóbicos e sufocantes.
É muita das vezes nesta contradição que caímos. Se a sensação de algum incómodo está quase sempre presente, está também a curiosidade em saber que monstros ou almas demoníacas estarão na próxima esquina. A forma como este apelo é conseguido é no minímo notável, e torna-se chave num estilo que corre facilmente o risco de cair na monotonia. Assistimos a verdadeiros ritos medievais quando influências Folk vêm ao de cima, marchas que nos guiam para estados contemplativos e até meditativos. É suster a respiração e mergulhar num mundo que tanto pode ser belo como feio, mas que é certamente desolador.

"The Die is Cast" não é de fácil digestão, nem nunca o será. Está-lhe nos genes esta exaltação do lado sombrio da alma. Dissequei-o e o que vi foram entranhas negras. Hipnose sonora. Experiência cada vez mais ímpar nos dias que correm.

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1 comentários:

Susana Quartin disse...

Álbum de 2008. Lindo, lindo. Se bem que perceba onde vejas "entranhas negras", eu até acho que seja um disco com uma aura muito positiva. O Cult of Ruins sim, é sujo e macabro.
Nice review :).

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